18 de agosto de 2012

Entenda como o Governo e montadoras fazem o cidadão brasileiro de palhaço


A revista Forbes,  em sua versão online desmascarou o preço abusivo cobrado no Brasil pelos carros importados.

A reportagem humilha o consumidor brasileiro: “Pagar R$ 179 mil, ou US$ 89,5 mil por um Jeep Grand Cherokee é “ridículo”, escreveu Kenneth Rapoza. “Foi mal, Brazukas... não há status em um Corolla, um Civic, um Grand Cherokee ou um Durango. Não se deixem enganar pelo preço. Vocês estão definitivamente sendo roubados. O que você diria se um colega americano lhe dissesse que pagou US$ 150 por um par de Havaianas?”



Como a referência do jornalista foi para o carro importado, Padovan fez questão de mostrar que o preço alto cobrado pelas marcas do segmento ocorre em razão do tratamento diferenciado em relação aos carros produzidos no Brasil.

Pelas contas do dirigente, um carro com motor acima de 2.0 supostamente comprado por R$ 100 mil no exterior (preço FOB = de fábrica + frete) é vendido no Brasil por R$ 343,2 mil.

Desse valor, segundo ele, apenas R$ 14,4 mil (ou 7,5%) ficam com o importador, como margem de lucro. Bruta. O resto é imposto, taxa e lucro do distribuidor.

Veja a composição do preço, segundo a Abeiva:


Valor pago no exterior R$ 100 mil
Alíquota de importação R$ 35 mil
Despesas aduaneiras R$ 3 mil
Cofins, PIS e ICMS R$ 54 mil
Total Parcial R$ 192.000,00
IPI (25% + 30%) s/ Parcial R$ 105 mil
Margem do importador R$ 14,4 mil
Margem do concessionário R$ 31,2 mil
Preço final R$ 343,2 mil

Se as contas estiverem corretas, tem concessionária pagando para trabalhar, pois muitos carros importados são vendidos a preço abaixo da tabela, com descontos que se aproximam da estimada margem de lucro. Como não é possível deixar de pagar o fornecedor e nem os impostos, a única possibilidade de reduzir o preço final é abrir mão da margem de lucro.


Em alguns casos, como o Malibu, da GM, o desconto é maior do que a margem de 7,5%, conforme pesquisa Molicar:


Malibu R$
Preço oficial 99.900,00
Margem (*) 7.425,00
Restariam 92.376,00
Preço praticado 90.000,00
Prejuízo (?) 2.376,00

Além do Malibu, outros carros importados são vendidos com desconto, o que reduziria a margem de lucro do importador, casos do Tribeca, do Jimny e do 308 Cabriolet.


Subaru Tribeca: R$
Preço oficial 155.000,00
Margem prevista (*) 11.625,00
Restariam 143.375,00
Preço praticado 145.000,00
Margem reduzida a 1.625,00
Suzuki Jimny:
Preço oficial 54.790,00
Margem prevista (*) 4.109,00
Restariam 50.681,00
Preço praticado 52.000,00
Margem reduzida a 1.319,00
Peugeor 308 Cabriolet:
Preço oficial 129.990,00
Margem prevista (*) 9.749,00
Restariam 120.241,00
Preço praticado 125.000,00
Margem reduzida a 4.759,00
(*) 7,5%, segundo a Abeiva


Seguindo o mesmo raciocínio, a margem de lucro dos carros importados do Mercosul e do México - que não pagam alíquota de importação (R$ 35 mil) e nem o IPI especial de 30% (R$ 30 mil) - teria um adicional de R$ 65 mil num carro cujo preço de custo fosse R$ 100 mil, como no exemplo da Abeiva. Somada aos 7,5% “oficiais” a margem total seria de R$ 79,4 mil (R$ 65 mil + R$ 14,4 mil).

Já o carro fabricado no Brasil, que além de não recolher alíquota de importação e nem o IPI especial, também não paga (obviamente) despesas de importação: frete (estimado em R$ 1 mil da Europa) e taxas aduaneiras (R$ 3 mil) teria uma margem de lucro ainda maior, de R$ 83,4 mil.

A carga tributária não explica, por si só, os absurdos preços do carro vendido no Brasil, assim como o chamado Custo Brasil – que inclui insumos, energia, logística e demais custos de operação.

Ambos – impostos e custos – ampliam o preço final, mas, como já mostramos aqui, é oLucro Brasil o maior responsável pelas distorções de preços no mercado brasileiro.

Não há carga tributária ou custo de operação que expliquem uma diferença de preço tão grande. O preço do carro no Brasil é alto em relação aos países do Primeiro Mundo e também em relação aos países subdesenvolvidos.

Veja o comparativo do preço do Toyota Corolla no Brasil, na Argentina e nos EUA, conforme a Acara, a associação dos fabricantes de veículos da Argentina.


Toyota Corolla
Nos EUA US$ 15,5 mil
Na Argentina US$ 21,6 mil
No Brasil US$ 37,6 mil


Veja outros exemplos da grande diferença de preços no Brasil e no exterior: 

Volkswagen Jetta
No México R$ 32,5 mil
No Brasil R$ 65,7 mil
Mercedes ML
No Brasil R$ 265 mil
Nos EUA R$ 75 mil
Kia Soul
No Paraguai US$ 18 mil
No Brasil US$ 33 mil


Mesmo carros feitos no Brasil, como o Gol E-Motion, da Volkswagen, é (muito) mais barato no exterior


Volkswagen Gol E-Motion
No Chile R$ 29 mil
No Brasil R$ 46 mil

Gordura pra queimar

A indústria argumenta que a margem de lucro é muito pequena. Diz que ganha no volume, considerando todo o catálogo de produtos, mas em alguns casos – como em determinados modelos populares – chegaria a ter prejuízo.

As montadoras instaladas no Brasil reclamam, mas quem está fora quer vir pra cá. Cada vez é maior o número de empresas interessadas em atuar no mercado brasileiro, que apesar das crises continua crescendo e tem um potencial que já não existe nos mercados maduros.

E se ganhar dinheiro no quinto maior mercado do mundo, que tem um consumo de 3,5 milhões de unidades é tão difícil, o que essas empresas estariam fazendo em países com mercados infinitamente menores, como Chile, Colômbia, Venezuela?

Mas a necessidade de enfrentar a concorrência leva as montadoras a estabelecer uma estratégia de redução dos preços, o que vem acontecendo nos últimos anos por pressão do mercado. a montadora já trabalhava com uma margem apertada, como consegue reduzir o preço final e continua remetendo milhões de dólares para as suas matrizes?

A maioria dos preços dos carros básicos caiu nos últimos anos e nem por isso as fábricas quebraram.

A Fiat baixou o preço do Siena EL em R$ 2.850,00 e, obviamente, continua tendo lucro. O Fiesta custava em torno de R$ 41 mil. Com a chegada do JAC J3, que veio com ar-condicionado, direção hidráulica, vidros elétricos, air bag e ABS por R$ 37,9 mil, a Ford abriu mão de R$ 3 mil da margem de lucro: baixou o preço para os mesmos R$ 37,9 mil do JAC. Também nesse caso, mostrou que a margem de lucro poderia ser reduzida, mas se não fosse pressionada pela concorrência manteria o preço. Detalhe: a redução só ocorreu nas duas maiores cidades do País, São Paulo e Rio, onde a concorrência é mais atuante. Nas demais praças, onde a JAC não tem uma atuação agressiva, o consumidor continua pagando pelo Fiesta o preço inchado R$ 41 mil.

A Volks fez a mesma coisa com o Voyage e o Fox, baixando o preço para enfrentar a concorrência, assim como outras marcas.

Isso mostra que tem muita gordura pra queimar. Mesmo assim, quando a situação econômica impõe dificuldades, as montadoras pedem socorro e são atendidas pelo governo.

Desde a crise em 2008 o Brasil socorreu por duas vezes o setor, abrindo mão de R$ 26 bilhões em impostos. Foram criadas no mesmo período 23,7 mil vagas de trabalho, isto é: o custo de cada vaga foi de R$ 1 milhão em renúncia fiscal. E nesse mesmo período as montadoras instaladas no Brasil enviaram às matrizes no exterior lucro de R$ 14,6 bilhões.


Autor original do Texto:

Joel Leite (joelleite@autoinforme.com.br) é diretor da Agência AutoInforme, especializada no setor automobilístico, que fornece informações para vários veículos de comunicação. Produz e apresenta o Boletim AutoInforme, das rádios Bandeirantes, Band News e Sul América Trânsito. É formado em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e pós-graduado em Semiótica e Meio Ambiente.

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